“Pois a Lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por intermédio de Jesus Cristo”. João 1:17
Eis aí um termo extensivamente explorado pela teologia cristã a partir da Reforma Protestante. Não que o tema fosse desconhecido antes, não era. Mas assumiu uma posição central na teologia que se produziu desde então.
Não é meu desejo analisar todos os aspectos da graça, mas considerar algumas questões do entendimento popular sobre a graça. Portanto vou me afastar um pouco dos conceitos de graça universal ou graça proveniente.
É fora de discussão que somos salvos pela graça (Efésios 2:8). Nenhum herdeiro direto da tradição protestante pode afirmar o contrário sem incorrer em heresia grave. O que geralmente causa um pouco de confusão é o alcance dessa graça.
Não é difícil encontrar pessoas que, confusas diante de algum sistema de escatologia (principalmente alguma variante dispensacionalista), imaginem que num futuro negro em que haveria um embate definitivo entre Deus e os poderes das trevas, as pessoas seriam salvas pelo seu próprio sangue, considerando que o tempo da graça teria passado. Eles imaginam que assim como as pessoas que viviam no tempo da lei eram salvas pela sua guarda e por sacrifícios animais, as pessoas desse futuro “gospelpunk” teriam que pagar pela salvação com o sacrifício pessoal.
Na base desse pensamento está uma compreensão limitada do sacrifício de Cristo. Entendimento que pode, inclusive, encontrar eco em textos (mal interpretados) como o de João 1:17, como se Cristo tivesse apenas criado um novo sistema de salvação mais simples.
Num certo sentido, a graça realmente mostrou-se na cruz de Cristo. Até então o entendimento era parcial. Entretanto a crucificação não se tornou eficaz apenas a partir do momento temporal em que ocorreu, sua eficácia, na verdade, abrangeu o infinito.
Ninguém nunca foi salvo pela guarda da lei (Romanos 3:28) ou pelo sacrifício de animais (Hebreus 10:04). Nunca houve um tempo de salvação pela lei, ou por qualquer outro meio que não fosse a cruz. A raça humana nunca viveu outro período que não fosse o da Graça. Quando os alicerces do mundo estavam sendo lançados, a graça lá estava. Cristo foi crucificado num momento temporal muito bem marcado, mas sua morte era um fato antes que houvesse seres humanos para serem salvos.
“E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo”. Apocalipse 13:8.
O mundo foi criado na realidade da Graça. A Lei veio como uma diretriz limitada e de eficácia “identificatória” e pedagógica, mas com alguns aspectos universais e atemporais. Ela serviu como uma espécie de sinal para a fé e que tinha como alvo a salvação que viria. No tempo determinado, na plenitude dos tempos (Gálatas 4:4), veio o Filho de Deus e a cruz e ela foi o monumento definitivo da miséria do pecado, da derrota da morte e da soberania da Graça. Metaforicamente plantada no solo e apontando o céu, com extremidades que iam do passado remoto ao futuro distante tornando plena a salvação que não seria alcançada não fosse por meio do sacrifício operado nela.
Por isso ninguém é salvo por seu próprio sangue ou esforços. Seja um dos patriarcas ou heróis dos tempos antigos; ou os fiéis apostólicos e dos dias negros de perseguição romana; sejam os crentes da Reforma, ou nós, eu e você e os queridos que nos cercam; sejam mesmo os homens que estarão sobre a Terra no dia da sua renovação; ninguém foi, é ou será salvo fora da maravilhosa graça que opera por Deus em Cristo.
Essa maravilhosa Graça!
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