sexta-feira, 3 de setembro de 2021

A Bíblia fala de ecologia?



O cuidado com o planeta, a ecologia, é um dos temas mais criticados pelos novos movimentos ideológicos. E é fácil de entender isso, preocupar-se com a ecologia significa limitar produção e, por consequência, consumo, uma pedra no sapato da economia.

Só que é uma loucura devastar um local de onde, ainda, não se pode sair, condenando as gerações futuras ao caos.
O interessante é a relação entre cristianismo evangélico e movimentos de negação dos problemas ecológicos. É certo que Weber relacionou protestantismo e capitalismo, mas o título do livro começa com "ética".
De fato, embora se diga que isso é um desvario progressista, a Bíblia apresenta muitas diretrizes de ordem ecológica. Os proto-pais, por exemplo, foram postos para lavrar e cuidar do Jardim do Éden. O pecado causou sua expulsão e a desolação da Terra.
A Lei possui numerosos mandamentos sobre o cuidado com a Terra. Levítico 25, por exemplo, estabelece um ano sabático de descanso para ela. O Cativeiro Babilônico durou o tempo ( Jr 25:11; Dn 9:2) não cumprido dos sabáticos desde quando os israelitas possuíram o território do Israel bíblico.
Em Provérbios 12:10 a crueldade com animais domésticos é mostrada como maldade, e o princípio pode ser estendido a todos os animais.
E, finalmente, Apocalipse 11:18 fala que Deus vai destruir os que destroem a Terra. Isso significa, especialmente, a maldade que se opõe a Deus criando o caos na sociedade humana daquele tempo, mas também a impiedade daqueles que se acham donos daquilo que pertence a Deus, a Terra e sua plenitude. O fato é tão importante que no Milênio Terra e natureza serão restauradas ( Isaías 11) ao seu estado paradisíaco.
Existe aí uma ética bíblica do cuidado com o planeta, embora ele esteja destinado a ser passado pelo fogo ( 2 Pedro 3:12-13).
Consciência ecológica não é coisa de "progressista" ou "eco-chatos", é um valor bíblico para o bem estar humano e o respeito ao Criador que nos colocou aqui.

EM DEFESA DA FAMÍLIA, DA MORAL E DOS BONS COSTUMES!!!

Nessas mais de duas décadas no meio evangélico, vi muitas vezes como esse discurso pode ser vazio. Muitos pais, depois de criarem os filhos na igreja, com Escola Dominical toda semana e várias outras atividades direcionadas para as crianças, viram seus filhos "caírem no mundo". A coisa mais comum é encontrar filhos de crentes cumprindo pena, inclusive de pastores, ou mesmo gente que se "desviou dos caminhos do Senhor".

E não é porque tiveram maus pais ou coisas assim, mesmo filhos vivendo em lares exemplares às vezes se desgarram. E sobra para os pais a frustração e o arrependimento pelo erro que nem sabem qual foi. E isso é mais comum nas igrejas mais "radicais", aquelas que exigem mais dos seus membros.
Por que isso ocorre? Porque a fé cristã, diferente do seu antecessor, o judaísmo bíblico, sabe que UM CONJUNTO DE REGRAS impostas por um SISTEMA DE COERÇÃO é ineficiente para mudar pessoas. Elas podem até "andar na linha" pelo medo, mas isso apenas cria hipocrisia. O que realmente muda as pessoas é a CONVERSÃO, a experiência com a fé. E mesmo assim pessoas conversas podem viver toda uma vida lutando contra suas inclinações e eventualmente cair. A Bíblia não ignora isso, por isso Paulo fala em "carne limitando contra o Espírito" (Gálatas 5:17). A fé cristã não é um programa social como era o judaísmo bíblico ou o islamismo atual, mas uma experiência de salvação com a qual o indivíduo se confronta e decide se a aceita ou não
E mesmo sabendo disso, muitos cristãos defendem uma bandeira de imposição de moralidade à sociedade. Mesmo sabendo que isso não funcionou nem DENTRO DAS SUAS CASAS. Com certeza alguém vai alegar que na sua casa não foi assim, e eu vou repetir que é porque seus filhos tiveram a experiência da fé além da imposição moral.
E estou falando só de filhos, mas também são comuns os "desvios" de líderes e de pessoas que possuem alguma responsabilidade, como os tesoureiros.E todos vivem sob pesada vigilância. E não só aí, mas em desvios que se tornaram conhecidos de toda a sociedade, como aqueles promovidos por evangélicos na política.
Esse discurso só tem uma função, manipular as pessoas. Mas elas não são desculpáveis, têm a Bíblia e têm essas experiências que sabem que são verdadeiras.
É triste ter que repetir isso, mas não temos que impor moral ao mundo, nós temos que ser a moral que confunde o mundo.

HIERARQUIA, AMOR E SERVIÇO

Passei pela experiência da conversão em 1995. Desde então congreguei em duas igrejas evangélicas. A atual é congregacional, ou seja, adota um modelo de governo local por meio de uma comissão de membros e frequentes consultas aos congregados em assembléia. A primeira adotava um modelo mais centralizado, com pouco ou nenhuma decisão dos membros. De todo modo ambas são instituições sérias e procuram ser fiéis ao seu fundamento.

Mas essa questão da hierarquização não me impressionou desde o começo. na verdade não me causou estranhamento não ter quase nenhuma liberdade (havia, eu podia sair da igreja, mas se quisesse ficar, tinha que me submeter, e me submeti). Obviamente meus líderes invocavam razões bíblicas para isso. E havia muitas razões. Entretanto, conforme fui evoluindo no estudo das Escrituras, um retrato diferente emergiu e, com o tempo, concluí que as razões não eram apenas bíblicas, mas tinham raízes culturais. E com isso não quero dizer que a Bíblia não fale de liderança e autoridade, pelo contrário, ela fala muito. Mas sempre mediadas por outros fatores que abordarei mais para a frente. Importante é ter em mente que o brasileiro está acostumado a uma realidade social com uma hierarquia muito forte. Os japoneses são, por exemplo, bastante hierarquizados. Mas sua hierarquia é mediada por conceitos como fidelidade à família e honra. Um japonês me disse uma vez que na sua cultura importante é a família, não o indivíduo. Nossa cultura não é assim, ela depende de líderes fortes, vivemos ainda o coronelismo psicológico, é assim que entendemos que uma sociedade deve ser. No passado, a única autoridade eram os padres. Então eles assumiam não só o cuidado com as almas, como também cuidavam de uma série de outras questões da comunidade que serviam. Os pastores evangélicos assumiram essa manto, exceto que em vez de administrar suas regiões, o faziam com os membros de suas igrejas. Então toda leitura de autoridade bíblica era interpretada a partir dessa lente cultural. Muitos outros povos possuem esse tipo de estrutura cultural, mas estamos tratando do Brasil.
Vejamos um pouco como isso se deu na leitura bíblica. Comecemos por Paulo, ele muitas vezes emitiu ordens ( 2Ts 3:4, por exemplo). E é nas suas cartas que encontramos a maior parte dos princípios de liderança tanto na igreja quanto no seio familiar. Como aqui:
"Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor; porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo. De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos".
Efésios 5:22-24
Em geral se frisa a necessidade da mulher se submeter, mas um pouco adiante (v.25) Paulo diz que o marido deve amar a esposa como Cristo amou a igreja, assim como disse no versículo 21 que todos deviam se submeter uns aos outros. Muitos entendem que Paulo falava de costumes de seu tempo e que procurou dar-lhes um sentido bíblico usando essa metáfora. Outros entendem que aquele padrão deve ser aplicado até o fim dos tempos por causa do pecado de Eva (que não foi só dela). Como eu disse, a forma como a pessoa vai interpretar isso é de acordo com que o que já traz culturalmente. De todo modo, essa "autoridade" é mediada pelo amor e pelo princípio geral o homem também deve se submeter à mulher já que em Cristo não "há macho nem fêmea" (Gl 3:28), a unidade em Cristo extrapola todos os papéis sociais.
Outro tema muito abordado é o da submissão aos líderes e os papeis de liderança de modo geral. Cita-se muito esse texto da Carta aos Hebreus:
"Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil". Hebreus 13:17
Uma coisa que me chamou a atenção, tão logo aprendi um pouco de grego, é que o term,o traduzido por "pastores" (egoumenois) não é o mesmo usado em outros lugares (poimenes) com esse sentido. Ele significa "líder", qualquer líder dentro da comunidade cristã, o que inclui também os pastores. O que me causou estranhamento foi primeiro o fato de Paulo falar em submissão mútua em outro lugar, de ele tratar questões complexas (como a de um homem envolvido sexualmente com a madrasta, 1 Co 5:01) e de Pedro aconselhando o seguinte aos presbíteros ("pastor" é um termo genérico para quem lidera, modernamente se adotou o termo como um grau hierárquico):
"Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu (...)Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; Nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho. E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa da glória". 1 Pedro 5:1,2-4
Existia um limite à autoridade, e regras para isso. Na verdade a cultura de Pedro era bastante hierarquizada. Mas se Cristo apenas estabelecesse isso, pouco estaria inovando. E como sabemos que Ele contrariou muitos dos "valores sociais" do seu povo, bem como estabeleceu novas diretrizes para evitar a hipocrisia e o abuso, é certo que faria isso também com a autoridade. E é o que ele fez. Em certa ocasião dois de seus discípulos vieram lhe pedir posições de autoridade, ele respondeu-lhes desse modo:
(...) "Sabeis que os que julgam ser príncipes dos gentios, deles se assenhoreiam, e os seus grandes usam de autoridade sobre eles; Mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser ser grande, será vosso serviçal; E qualquer que dentre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos. Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos".
Marcos 10:42-45
A autoridade se mostra em serviço. E o verdadeiro serviço não pode fluir senão de um ato de amor. Os fariseus buscavam autoridade, gostavam dos melhores assentos e de ser reconhecidos por isso publicamente (Mt 23:6-7), mas não deveria ser assim com seus seguidores. Desse modo Cristo estabeleceu a autoridade como serviço e esse princípio teme sido "uma pedra de tropeço" para muitos homens que viram no cristianismo uma força para seu desejo de domínio. Sempre foi uma questão de amor.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Sobre as últimas publicações

Como você deve ter visto, eu fiz uma série de postagens. Eram textos já publicados em outros lugares, mas ainda inéditos no meu próprio espaço. Espero postar mais regularmente, mas gostaria que você me desse suas impressões, que trocasse experiências comigo. Eu também ficaria muito feliz se você compartilhasse meus textos, e que eles de algum modo pudessem ajudar alguém.

Os dois últimos são mais "sisudos", são estudos com um pouco de polemismo. Os anteriores, contudo, são mais leves e têm um caráter devocional. Foram escritos em momentos de profunda meditação, e considero que são edificantes. Caso você queira ler esses oito textos meditativos antes, você pode acessá-los diretamente nesse link: 

http://isaiasoliveira.blogspot.com.br/search/label/medita%C3%A7%C3%A3o%3B

Shalom!

Cristianismo, Cultura e Ideologia



Tenham cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo”. Colossenses 2:8

O Cristianismo é uma fé para todos os seres humanos (Gl 3:28), independente de qualquer “qualidade de distinção” natural (sexo, cor) ou “artificial” (nacionalidade, religião, ideologia).

Ninguém precisa abandonar sua cultura para se tornar cristão. E por “cultura” dizemos aqueles traços distintivos de um povo, suas cores sociais, que não sejam claramente práticas pecaminosas, a exemplo do canibalismo ou da prática do infanticídio.

O Cristianismo não se confunde com ideologias particulares. Entendendo aqui ideologia no seu sentido amplo de conjunto de ideias ou visões de mundo que influenciam ordenamentos sociais e posições políticas. Devido à mal compreendida maleabilidade do Cristianismo, houve vários momentos históricos em que elementos culturais ou ideológicos passaram a fazer parte de determinada vertente cristã. Quando essa mistura se torna uma tradição, os fiéis dessas vertentes passam a acreditar que ser cristão implica ter as leituras de realidade e discursos próprios dessas versões do Cristianismo. Desse modo, ser cristão, nessa visão, passa a ser um distintivo cultural que assume força de ideologia quando é exportada para outras nações. Isso não significa, necessariamente, um desvio doutrinário ou heresia.

O cristianismo é universal, mas é também local. É importante que ele assuma as cores locais, mas não deve perder sua universalidade ou se tornar parte de uma corrente ideológica que vai ser exportada para outros povos.

A cultura é tradição, o Cristianismo também possui uma linha de tradição que remete aos primeiros ensinos de Cristo. Entretanto cabe uma distinção, ele possui uma tradição, mas não é apenas uma tradição. Tradição é andar pelos mesmos caminhos antigos, cristianismo é novidade de vida (Rm 6:4).

A mesma distinção pode ser feita com relação às ideologias. Muita gente vê pontos de contato entre sua ideologia e os ensinos do Novo Testamento. A partir disso racionaliza de modo a confundir os dois. Outro modo é pela via da cultura. Não é segredo que recebemos um grande afluxo missionário vindo da América do Norte e isso foi uma benção para nós. Mas pelo caminho aberto pelos missionários vieram também teologias com uma carga cultural e ideológica nem sempre fácil de identificar. Com isso passamos a defender as mesmas bandeiras que eles e a ter a mesma visão da realidade. Quando isso está pautado numa realidade bíblica, não há problema, porém nem sempre está.

É verdade que temos que ser sal da Terra e luz do mundo (Mt 5:13-14), mas também é verdade que “esperamos novos céus e nova Terra, onde habita a justiça” (2Pe 3:13). Tanto a tradição quanto a ideologia pensam num mundo melhor, uma pelo que foi e a outra pelo que deve ser. No cristianismo o mundo ideal vem, e vem por meio de “Quem”, do próprio Cristo. Não por esforços humanos. Os dois primeiros são mundos do discurso, o último é da fé.

A realidade de Paulo também era assim, tanto que ele escreveu: “Eu lhes digo isso para que ninguém os engane com argumentos aparentemente convincentes” (Cl 2:4).

As palavras podem ser bonitas e ter toda aparência de sabedoria, mas apenas em Cristo “estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (Cl 2:03).

Mantemos nossa cultura, e nos apegamos às nossas ideologias, mas com a consciência de que elas são temporais e sem confundi-las com a essência da nossa fé. Isso nos fará menos sensíveis às variações do mundo e mais às riquezas da nossa fé, uma só fé!

Um Convite à Teocracia... Ou não?


"Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor, e o povo ao qual escolheu para sua herança". Salmo 33:12 (ACF*).

Esse texto muitas vezes é usado por políticos cristãos como se fosse um convite para que qualquer nação se tornasse "cristã".

Mas é um erro. A palavra "SENHOR" substitui, no texto hebraico, YHWH, (יהוה), o Tetragrama para o nome de Deus. Muitas vezes essa palavra é transliterada por JEOVÁ ou JAVÉ, entre outras formas variantes. O hebraico não possui caracteres vogais, e como a Lei proibia "tomar o nome de Deus em vão" (Êxodo 20:07), a vocalização correta da palavra começou a se perder quando o TEMPLO judaico foi destruído pelos exércitos romanos em 70 d.C. O NOME (HaShem) era pronunciado apenas uma vez por ano pelo Sumo Sacerdote judeu no Dia da Expiação (Levítico 23:27), o YOM KIPPUR. Contribuiu nesse “esquecimento” o fato de que na diáspora** a maioria dos judeus passou a adotar as línguas locais, ficando o hebraico para uso litúrgico e dominado apenas por estudiosos. E durante muito tempo as comunidades judaicas viveram isoladas dos centros de cultura ao redor.

Séculos mais tarde (século VI em diante), sábios judeus chamados “massoretas” (escribas) criaram um sistema de sinais diacríticos colocados abaixo e ao lado das letras hebraicas para indicar os sons vocálicos. Como os judeus não devem pronunciar YHWH, eles costumam utilizar ADONAY (Meu Senhor) em seu lugar. Em torno de 1100 d.C., alguém  pegou os sinais diacríticos de “Adonai” (não procure a correspondência em português) e os colocou em YHWH dando origem a Yehowah. Um costume adotado bem antes pelos leitores judeus (ler “Senhor” onde o texto dizia”YHWH) e já presente na SEPTUAGINTA***. Algumas edições da Bíblia continuaram o costume, e utilizaram SENHOR onde o texto trazia o Tetragrama.

Portanto "SENHOR" no Salmo 33 não está adjetivando “Deus”, mas é um substantivo para o Seu nome. O salmista não está convidando as nações a se tornarem teocracias, mas afirmando que das nações que havia em seu tempo, a "Bem-Aventurada" e escolhida era aquela que tinha como Deus nacional a YHWH. Não era a Babilônia com seu Marduk, nem a Filístia com Dagom, o Egito com seus inumeráveis deuses, ou uma das variações de Baal, mas ISRAEL e YHWH.

A estrutura poética do versículo esclarece isso. É muito importante para a poesia hebraica o paralelismo. Existem dois tipos principais de paralelismo na Bíblia, o antitético (quando um verso contrasta com o anterior por uma ideia oposta) e o sintético (quando um verso complementa o anterior usando uma ideia sinônima). No texto epigrafado o uso é sintético. “Nação” e “povo” são uma unidade. Aquele povo e aquela Nação. Deus não escolheu nenhuma outra nação da Terra, além de Israel, para levar o seu nome (Amós 3:2).

O cristianismo não é uma fé nacional, como era o judaísmo primitivo. É uma fé universalizante e de natureza espiritual que conclama os homens a aderirem a uma cidadania celestial. Existem cristãos, mas não uma "nação cristã". Podemos e devemos orar pela nossa nação e pelos nossos líderes (I Tm 2:1-3). Mas não faremos nossa nação abençoada apenas proclamando o senhorio de Deus sobre ela, “do Senhor é a Terra e tudo o que nela existe” (Sl 24:01,NVI), e sim proclamando nossa fé através dos nosso atos e palavras e agindo de acordo com seus valores (II Co 2:15).

Quem usa o salmo 33:12 apelando para uma “teocracia evangélica”, ou para justificar políticos, ditos cristãos, que não têm comprometimento com a ética evangélica, não entendeu o texto, ou, o que é mais provável, está querendo enganar os fiéis.

* Almeida Corrigida e Revisada “Fiel”.
**Diáspora: dispersão dos judeus por todo o mundo, I Pe 1:1.
*** LXX. Tradução grega do Antigo Testamento produzida no período helenístico anterior a Cristo e muito importante na produção do Novo Testamento.

GRAÇA


 Pois a Lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por intermédio de Jesus Cristo”. João 1:17

Eis aí um termo extensivamente explorado pela teologia cristã a partir da Reforma Protestante. Não que o tema fosse desconhecido antes, não era. Mas assumiu uma posição central na teologia que se produziu desde então.

Não é meu desejo analisar todos os aspectos da graça, mas considerar algumas questões do entendimento popular sobre a graça. Portanto vou me afastar um pouco dos conceitos de graça universal ou graça proveniente.

É fora de discussão que somos salvos pela graça (Efésios 2:8). Nenhum herdeiro direto da tradição protestante pode afirmar o contrário sem incorrer em heresia grave. O que geralmente causa um pouco de confusão é o alcance dessa graça.

Não é difícil encontrar pessoas que, confusas diante de algum sistema de escatologia (principalmente alguma variante dispensacionalista), imaginem que num futuro negro em que haveria um embate definitivo entre Deus e os poderes das trevas, as pessoas seriam salvas pelo seu próprio sangue, considerando que o tempo da graça teria passado. Eles imaginam que assim como as pessoas que viviam no tempo da lei eram salvas pela sua guarda e por sacrifícios animais, as pessoas desse futuro “gospelpunk” teriam que pagar pela salvação com o sacrifício pessoal.

Na base desse pensamento está uma compreensão limitada do sacrifício de Cristo. Entendimento que pode, inclusive, encontrar eco em textos (mal interpretados) como o de João 1:17, como se Cristo tivesse apenas criado um novo sistema de salvação mais simples.

Num certo sentido, a graça realmente mostrou-se na cruz de Cristo. Até então o entendimento era parcial. Entretanto a crucificação não se tornou eficaz apenas a partir do momento temporal em que ocorreu, sua eficácia, na verdade, abrangeu o infinito.

Ninguém nunca foi salvo pela guarda da lei (Romanos 3:28) ou pelo sacrifício de animais (Hebreus 10:04). Nunca houve um tempo de salvação pela lei, ou por qualquer outro meio que não fosse a cruz. A raça humana nunca viveu outro período que não fosse o da Graça. Quando os alicerces do mundo estavam sendo lançados, a graça lá estava. Cristo foi crucificado num momento temporal muito bem marcado, mas sua morte era um fato antes que houvesse seres humanos para serem salvos.

“E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo”. Apocalipse 13:8.

O mundo foi criado na realidade da Graça. A Lei veio como uma diretriz limitada e de eficácia “identificatória” e pedagógica, mas com alguns aspectos universais e atemporais. Ela serviu como uma espécie de sinal para a fé e que tinha como alvo a salvação que viria. No tempo determinado, na plenitude dos tempos (Gálatas 4:4), veio o Filho de Deus e a cruz e ela foi o monumento definitivo da miséria do pecado, da derrota da morte e da soberania da Graça. Metaforicamente plantada no solo e apontando o céu, com extremidades que iam do passado remoto ao futuro distante tornando plena a salvação que não seria alcançada não fosse por meio do sacrifício operado nela.

Por isso ninguém é salvo por seu próprio sangue ou esforços. Seja um dos patriarcas ou heróis dos tempos antigos; ou os fiéis apostólicos e dos dias negros de perseguição romana; sejam os crentes da Reforma, ou nós, eu e você e os queridos que nos cercam; sejam mesmo os homens que estarão sobre a Terra no dia da sua renovação; ninguém foi, é ou será salvo fora da maravilhosa graça que opera por Deus em Cristo.

Essa maravilhosa Graça!

Rótulos


"Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo". 2ª Coríntios 5:17 (Almeida Corrigida e Revisada)
Se existe uma coisa complicada nessa vida é se livrar dos rótulos. As pessoas são, em geral, deterministas. Se você reagiu de um modo em certa ocasião, as pessoas acham que vai continuar agindo da mesma forma em todas as ocasiões. Você certamente já ouviu alguém dizer fez isso e agora que dar uma de santo, como se alguém não pudesse se arrepender e começar a fazer as coisas certas.
Se isso é ruim, muito pior é quando a pessoa se convence de que os rótulos são mesmo dela, como se eles fizessem parte da sua natureza e fosse impossível removê-los. Isso é bem comum, muitos de nós já se sentiram gravitando ao redor de um desses rótulos, abominando-o e sentindo-se incapaz de se desfazer dele. Uma amarra psicológica! Mas uma coisa são os comportamentos de uma pessoa, outra bem diferente é a pessoa em si.
É um tema central da vida cristã que em Cristo somos novas criaturas. O que fomos não importa mais, agora somos vistos pelo que Ele fez em nós. Isso não significa que não vamos ser tentados por comportamentos enraizados em nossos costumes, por padrões ancorados na nossa mente. O que não devemos é aceitar esses rótulos como parte de nós. “Tudo se fez novo” e é necessário que andemos “em novidade de vida” (Romanos 6:4).
Você não deve carregar todos esses rótulos. Você também não deve utilizar esses rótulos como desculpa para não mudar. Não diga “eu sou assim mesmo” ou “eu não posso mudar o que sou”, pois em Cristo você já é uma pessoa renovada. Você não é “duro”, “iracunda”, “obstinado”, “fácil”, “mentirosa”, “falso”...
Do mesmo modo, você precisa se esforçar para não ver as pessoas por esses rótulos, “a ninguém mais consideramos do ponto de vista humano” (2ª Coríntios 5:16). Essa é a ideia por trás do “não julgueis”, pois em Cristo não existem mais estereótipos, Ele é tudo em todos (Colossenses 3:11). Os comportamentos devem ser vistos, e combatidos, se for o caso, pelo que eles são, comportamentos. Comportamento não é personalidade, é ação e escolha. As pessoas precisam entender que elas não são predestinadas a agir de certo modo, mesmo que elas sintam vontade de agir assim.
Jacó recebeu seu rótulo (Gênesis 25:26) no nascimento, “aquele que segura pelo calcanhar”. E seu nome soa, em hebraico, muito parecido com “enganador”. Imagine o que significava carregar um rótulo desses? E esse rótulo acabou por influenciar boa parte da vida adulta desse patriarca. Se ele era o “enganador”, por que agiria de outro modo? Mas ele teve um encontro com Deus (Gênesis 35:10), e “tudo se fez novo”, a começar pelo seu nome.
Deus nos promete um novo nome (Apocalipse 2:17), um nome que realmente seja parte de nós no lugar dos nomes que temos hoje ou dos rótulos que vamos recebendo durante a vida.
Não carregue cargas que não precisa, nem as coloque sobre os ombros dos outros.
Somos novas criaturas, os rótulos, novos e velhos, já passaram!

Que Ganho com Tanto Trabalho?


“O que o homem ganha com todo o seu trabalho em que tanto se esforça debaixo do sol? Eclesiastes 1:2
Eclesiastes é o livro da conversa sincera, dos olhos nos olhos. O “Kohelet”, título hebraico da pessoa que faz os discursos, cria sua filosofia desconstruindo para reconstruir. Atenção! Você não deve se aproximar deste livro com ideias preconcebidas. Com o Eclesiastes é assim, você chega, se senta à mesa e espera até que ela esteja posta. A crueza do livro choca, e alguns até veem cinismo nele.
É certo que os primeiros discursos elencam todos os “negativos” da vida, de como as coisas são transitórias e efêmeras se comparadas à outra realidade além dos olhos. Porém os negativos não estão ali para chocar nem dar uma visão pessimista da vida. Eles nos ensinam.
O pregador nos diz que todo o nosso trabalho para pouco serve, é coisa transitória. Construímos uma casa, e logo ela começa a se deteriorar, e com isso vêm as constantes manutenções. Nada do que fazemos permanece.
Isso não é uma defesa da “inação”, existe uma teologia do trabalho que permeia a Bíblia e que vai influenciar o pensamento cristão, das manifestações pós-apostólicas ao início do capitalismo moderno e sua relação com a ética protestante.
Provérbios manda o preguiçoso ir ter umas aulas com a formiga (Provérbio 6:6) e Paulo diz aos tessalonicenses que quem não quer trabalhar deveria também não comer (2 Ts 3:10). Deus é apresentado trabalhando logo no início da  sua obra, e Jesus afirmou que assim como Deus, Ele também trabalhava (João 5:17). É verdade que certa teologia viu no trabalho uma maldição por causa da queda, mas o problema veio do incremento de dificuldade e não do trabalho em si.
De todo modo, mesmo reconhecendo o valor do trabalho, devemos aprender com o Kohelet que ele, assim como as outras coisas de nossa vida terrena, produz resultados transitórios.  O princípio aí é o de evitar uma visão exagerada do trabalho. Fazer dele o fim (quando é um meio) de nossa vida. Workaholics, as pessoas viciadas em trabalho, nem sempre aproveitam seus frutos. O excesso de trabalho, ou o excesso de preocupação com ele, produz mais frutos negativos que positivos (Ecl 2:23).
O importante é que tenhamos uma relação saudável com o trabalho, pensando sempre que ele deve ocupar seu tempo apropriado na nossa vida. Pois muito do desejo relacionado às realizações vêm de um sentimento de “ansiedade pela eternidade” (Ecl 3:11). Por isso muitos empreenderam obras pensando na sua permanência. Algumas realmente sobrevivem muitas gerações, mas mesmo esses encontrarão seu “ocaso”.
Você deve encarar o trabalho pelo que ele é. E em lugar de “maldição”, o trabalho passa a ser visto como um presente!
Afinal de contas, tudo o que fazemos deve ser feito para a glória de Deus (1 Co 10:31). 
Não é o que eu ganho, mas o que eu não perco no processo!
 “Descobri também que poder comer, beber e ser recompensado pelo seu trabalho, é um presente de Deus”. Eclesiastes 3:13.


Eu Tenho a Força?


"Tudo posso [em Cristo] naquele que me fortalece".
                                                        Filipenses 4:13

Texto muito conhecido...Fora do seu contexto. Citado assim, solto, dá uma ideia de poder, quase como se fosse um amuleto, uma frase mágica que pode te transformar em...

Sintoma de uma época em que vale mais o discurso de uma fé ufanista que as ações derivadas da fé sincera. Entretanto basta uma olhada no versículo anterior para desfazer o erro: “Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação”.  Esse é um segredo importante para uma vida, em todos os sentidos, saudável. E um princípio cristão inegociável, praticado durante os últimos dois milênios por todos aqueles que foram tocados pela verdadeira paz que “excede todo entendimento” (v. 7).

Isso não é estoicismo. Nada de indiferença filosófica. É o fruto de uma fé madura. Não é tornar-se um tipo de robô incapaz de sentir. Não é ser “forte” no sentido de reprimir a todo custo nossos sentimentos. Pelo contrário, até o Mestre chorou (Jo 11:35)!

É conhecimento e é mais que conhecimento! Todo ensino passa pelo intelecto, mas ele precisa frutificar, ser incorporado ao nosso ser de tal modo que passe a ser parte da nossa natureza. Paulo chama isso de ter a “mente de Cristo”(1 Co 2:16). Isso se dá por meio da prática (Fp 4:9).   Paulo não era indiferente ou insensível, ele sentia as dores como todos nós, mas sabia que por meio de tudo isso ele era conduzido a algo melhor.

É uma grande ajuda, quando você passa por dificuldades, saber o seu objetivo. Quando isso acontece, as coisas não parecem mais tão assustadoras e você consegue ver os raios de sol num dia nublado.

E existe um “lado b” nessa fita (80’s), o texto reconhece que mesmo coisas aparentemente boas podem produzir resultados ruins. Vivemos um tempo de abundância (apesar das crises), se comparado a épocas passadas, e nossa geração é uma das mais iludidas com todas essas coisas que são apenas temporárias. “Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação”, ensina o apóstolo!

Paulo já aprendera (2ª Co 12:09) que o poder de Deus se manifesta na fraqueza humana. Com isso em mente, podemos entender o texto como “eu tudo posso suportar, mesmo as coisas boas, em Cristo que me fortalece”. Esse é um contentamento que independe das circunstâncias exteriores.

Que tal praticar um pouco desse contentamento com tudo o que você tem HOJE?


Essa é a fortaleza inabalável de quem é fortalecido por Cristo!

Shalom!

Seja Bem Vindo (a) meu (minha) amigo(a), fique a vontade para copiar o que te interessar e distribuir. Apenas peço que cite a fonte. No mais que Deus te abençoe com todas as benção espirituais em Cristo!

(No fim da página você pode deixar um recado para mim, além dos comentários habituais.)