quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Bases Bíblicas para a Autoridade Cristã

Tenho muitas vezes questionado as relações de poder dentro da igreja (e fora). Eu reconheço que isso soa como conversa de um rebelde despeitado, dor de cotovelo de alguém que não conseguiu obter uma “posição” dentro do ministério. Bom, embora a coisa possa parecer assim, definitivamente afirmo que não é. Não tenho pretensão ao ministério, minha “ambição” não chega até aí. Se escrevo contra, é numa tentativa de demonstrar aquilo que acredito com relação a isso, eu não sou um tipo de “anarquista” cristão, apenas vejo na Bíblia outra direção. E se coloco em evidência minha opinião, não o faço para ensinar quem quer que seja. Faço-o para mim mesmo, para provocar o diálogo, para que minhas idéias sejam, se possível, questionadas. A única forma de saber se se está certo ou errado é tornando pública sua opinião. É isso o que eu faço, evidencio minha opinião, que eu acredito Bíblica, para que seja debatida e refutada. Então se quero convencer alguém-esse alguém sou eu mesmo! Vamos então ao que interessa.

MODELOS DE ADMINISTRAÇÃOA Bíblia nos traz alguns modelos de autoridade, a maioria no Antigo Testamento e dois no Novo Testamento, o dos líderes de Israel ao tempo de Jesus e outro que foi ensinado por Ele em Oposição àquele. O modelo judaico era uma forma de liderança secular/ religiosa. Eu digo “secular” porque ia além de apenas questões de fé ou porque tivera pretensões de ser mais do que um tribunal religioso, embora Herodes, o Grande, tivesse limitado bastante essa autoridade. O Sinédrio baseava-se nas instituições do At, imaginavam-no como a continuação daquele instituto introduzido por Moisés quando este apontou setenta anciãos para que o ajudassem a “julgar” Israel. Com grandes ou pequenas variações, esse era o modelo de todo o At. Israel teve alguns modelos diferentes de liderança, mas todos sempre estiveram envolvidos em questões religiosas e civis, o mundo antigo era assim. A divisão estado/ igreja é coisa moderna (na prática, porque em tese Jesus já indicara isso) e Israel não fugia à regra.
A autoridade religiosa cristã hoje, não raro, costuma indicar ou estabelecer seu modelo de administração com base em conceitos neo e vétero testamentários. Entretanto, por mais que toda a escritura seja inspirada, não são todos os seus modelos que podem ser aplicados sem prejuízo na igreja cristã. Um líder tentar legitimar sua autoridade com base em alguma passagem da vida do Rei Davi é no mínimo uma incongruência. As relações de poder e administrativas eram muito diferentes na época de Davi. Ele comandava um reino secular. É claro que o modelo do rei Davi serve de alerta aos líderes, é claro que a vida de Davi deve ser estudada e seus erros e acertos considerados. É claro que espiritualmente somos um “reino” que tem inimigos poderosos. Mas querer aplicar um modelo de autoridade de um reino secular dentro de uma instituição religiosa é um erro. E o é não porque eu, Isaias, acho isso, mas porque Jesus estabeleceu um modelo diferente que prescindiu dos modelos existentes e estabeleceu uma lógica que não é deste mundo, mas do céu.

O MODELO DE JESUS
Em certa ocasião os Filhos de Zebedeu, Tiago e João, pediram que sua mãe fosse até Jesus e solicitasse que eles sentassem em torno de Jesus no seu reino, um à direita e outro à esquerda. Certamente eles pensavam no reino terreno do Messias. Os outros apóstolos, ao saber disso, se indignaram contra os dois. Jesus, vendo isso, os chamou a si e não deu uma resposta dura, ele não fez uma reprimenda, não os chamou de tolos ou coisa parecida, mas como um pai amoroso Ele estabeleceu o modelo definitivo a ser utilizado na igreja daí por diante:

“Então Jesus, chamando-os para junto de si, disse: Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; mas, todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande, seja vosso serviçal; E, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo; Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos” Mateus 20:25-28 (ver também Mc 10:32-45; Lc 18:31-43).

Tudo o que foi escrito depois sobre autoridade eclesiástica deve ter esse princípio como base. E realmente o autoritarismo cai por terra quando se lê essa passagem. Líderes modernos, sabendo que o texto “diminui” sua autoridade, costumam prescindir dele ou dar-lhe uma interpretação mais “espiritualizada”. Um tempo atrás eu estava numa igreja onde um pastor dizia que para chegar àquela posição (pastorado) ele teve que servir muito aos homens. Ele dizia que se alguém esperava “subir” no ministério este deveria se submeter aos “caprichos” (essa palavra foi minha) dos líderes. Que o bom obreiro tem que fazer tudo e obedecer sem reclamar porque isso o levará ao topo do ministério. Ele disse: “Eu fazia tudo irmãos, andava a pé e não recusava trabalho que fosse e por isso alcancei essa posição, ainda que não a mereça, imaginem eu um pedreiro agora pastor”. O que pesa não é o fato de ter sido pedreiro, Pedro foi pescador. A visão de ministério é que está errada. Este conceito de ministério ascendente está enraizado na mentalidade cristã, pode até parecer bonito o discurso daquele pastor, mas ele, acredito por ignorância, inverteu totalmente o estabelecido por Jesus. Como pastor ele não poderia sair de uma posição de serviço para uma de autoridade, a autoridade, segundo Jesus, implica em serviço. Portanto quem pensa estar “subindo” na verdade está descendo, pois a ascensão se dá pelo rebaixamento, ser líder é antes de TUDO servir! Se alguém deseja ser alguma coisa porque pensa que isso fará dele uma pessoa grande esse alguém é um tolo e desconhece o evangelho. Jesus “não veio para ser servido, mas para servir”. “Os gentios têm autoridades sobre eles, mas não será assim entre vocês”, antes quem quiser ser grande SIRVA. Isso destrói todo o argumento ministerial do "Exousiólogos" de hoje, e essa é a minha grande questão: Se essas pessoas defendem uma coisa que não existe e vivem em função disso, a quem estão servindo? Não ouso responder.

AUTORIDADE ECLESIÁTICA E A UNIDADE DA IGREJAIsso significa que a igreja não tem nenhum tipo de autoridade, implica isso numa “anarquia” onde cada um "faz o que quer"? Não, implica apenas que a autoridade se estabelece de forma diferente, que alguma coisa do que nos acostumamos a obedecer é imposição dos homens que se assenhoreiam daquilo que não lhes pertence, mas a Deus. Vocês conseguem lembrar de outro personagem bíblico que tentou algo assim? “Subirei ao monte de Deus” ele disse ( Isaías 14 :12-14).
A chave para entender o real conceito de “Ministério” (subentendido como corpo de liderança) está em ler todas as passagens do Novo Testamento que tratam de liderança tendo em mente aquele princípio de serviço expresso pelo Senhor Jesus. Um dos textos chave é Efésios 4:11, texto usado geralmente para defender o modelo de liderança autoritária: “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, (...)” . Bem , a autoridade é defendida com base nesse trecho, percebam porém que ele está fora do contexto, para entendê-lo se faz necessário ler o capítulo inteiro, antes porém olhemos mais atentamente para ele. Devemos entender que esse texto não fala de hierarquia, de graus de ascensão que um pessoa vai trilhando. Por acaso alguma igreja “consagra” apóstolos, profetas ? Se o faz não é em obediência a esse texto, porque aí fala-se de DONS e não de GRAUS, vejamos o texto completo:

“Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados, 2 com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor,3 procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz: 4 há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; 5 um só Senhor, uma só fé, um só batismo; 6 um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e em todos. 7 Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo. 8 Pelo que diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens. 9 Ora, isto—ele subiu—que é, senão que também, antes, tinha descido às partes mais baixas da terra? 10 Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas. 11 E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, 12 querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, 13 até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, 14 para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente.15 Antes, seguindo a verdade em caridade, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, 16 do qual todo o corpo, bem ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor”. Efésios 4 :1-16.

Percebam, portanto, que o assunto do texto como um todo é a unidade do Corpo De Cristo, a igreja. Nesse texto, os “ministérios” são apresentados como "dons ministeriais" (vs 8-12), devem ser entendidos mais como uma "especialização do Espirito Santo", eles existem com a função principal de “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo. Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” ( vs 12, 13, Almeida Revista e Atualizada) . O “ministério” tem sido entendido como um corpo separado do Corpo, um tipo de clero. Então a igreja seria formada por dois tipos de pessoas, eu e você, os leigos e alguns que estão como que acima de nós, os oficiais, o clero. Alguém vai dizer que não é assim, mas eu digo que não é no discurso, mas o é na prática. Quem já não sofreu uma "discriminaçãozinha" dos “grandes”. Lembro-me duma ocasião quando um presbítero ao telefone me perguntou se eu era “presbítero, diácono ou apenas cooperador”. É assim que eles vêem a coisa, é claro que há exceções de homens que entendem o pastorado como serviço, mas infelizmente esses são a minoria.

PASTORES
Portanto o que realmente importa, o que nos faz crentes é estar em unidade no Corpo. O Corpo é importante e ele só tem uma cabeça que o controla pelo Espírito Santo e que, portanto, não necessita de procuradores, pois Ele é eficiente e suficiente no seu trabalho. Essa visão hierarquizante é uma ilusão, criada e alimentada por pessoas ávidas de poder que tergirvesam ( tergiversar, dar desculpa, evasiva, rodeio) as escrituras para que se adaptem à sua visão.
Ninguém “sobe” no ministério, sobe numa organização terrena, mas se não se cuidar será o menor no reino.
“ESTA é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja” (ITm 3:01).
Mas apenas na medida em que ele deseja servir a Deus, se o seu intento é o mesmo de um executivo que deseja chegar a presidente de sua empresa, então ele está construindo sua casa sobre a areia, terá louvor dos homens, mas não terá aprovação de Deus .
Mas a Bíblia não nos manda “obedecer aos nossos Pastores”? Sim, mas leia o texto completo:
“Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a palavra de Deus, a fé dos quais imitai, atentando para a sua maneira de viver.Obedecei aos vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam pelas vossas almas, como aqueles que hão-de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil. Hebreus 13:07 e 17.
Prestem atenção numa coisa, no uso do plural, portanto a autoridade não repousava sobre os ombros de uma só pessoa, mas havia pastores. Com certeza sempre havia aquele em quem o dom era mais evidente e que portanto liderava a liderança, mas isso não significa um autoritarismo irrestrito, significa que todos tinham uma visão concorde em cuidar da Noiva do Cordeiro. Leia o que Pedro disse sobre isso:
“Aos presbíteros que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar: 2 apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; 3 nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho. 4 E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa de glória” (1Pe 5)
Prestem atenção na frase “nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho” (v 3 ARA). É à partir dessa visão que o “Obedecei” deve ser entendido. Pedro diz que ele, o pastor, tem que ser o exemplo do rebanho e Hebreus nos diz para atentar no seu modo de vida. Obediência está, portanto, vinculada a aceitação dos ensinos bíblicos e não num autoritarismo do tipo secular, porque um homem que vive o evangelho e foi capacitado pelo Espírito Santo a ser pastor não pode almejar grandeza terrena. E a sujeição não é só ao pastor , mas uns aos outros:
“Semelhantemente vós, mancebos, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos sujeitos uns aos outros, e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (I Pe 5:5).
Na verdade essa sujeição é ao Corpo. Cada um tem a sua função, juntas e medulas bem ajustadas, os não cooperadores (embora todos devessem sê-lo) não são apenas espectadores mudos, são, antes, partes importantes para que todo o Corpo tenha plena funcionalidade. O ministério existe para o aperfeiçoamento, e porque não, o bem estar dos congregados. As pessoas têm sido vistas como “ovelhas de engorda” cuja única função é contribuir com sua lã e gordura, esse é o grande erro, e nisso eu digo que não devemos ser submissos. A igreja tem obrigação de prover o bem estar aos seus membros, espiritual, psicológico e físico.
“Mas, se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior do que o infiel”. 1 Timóteo 5:8.
Se isso é verdade para o particular também o é para a coletividade.
Pastor na antiguidade não era um título hierárquico como hoje, era uma função, presbíteros eram quem pastoreava, não estou dizendo que não devemos ter pastores, embora seja uma invenção moderna, mas que essa função tem que estar dentro dos parâmetros bíblicos. Ninguém é maior que ninguém, a sujeição não deve ser por medo, pressão ou interesse, mas por amor a Deus e a sua palavra! Sem terrorismo psicológico.

CONCLUSÃO
Concluindo, essa é a minha visão, que eu considero ser o que a Bíblia ensina, sobre o ministério. Por isso eu fico indignado com certos líderes de hoje que utilizam a igreja apenas como coisa a ser explorada. São pessoas, não coisas, e elas são o que de mais importante existe sobre a terra, a Amada do Cordeiro.
Essa relação " comercial" é que gerou muitos expectadores e poucos adoradores na casa de Deus. Por isso a igreja passa muitas vezes por momentos de baixa, a idéia de Corpo tem que ser fortalecida.E me perdoem os pró-clérigos se a verdade dói, dói, mas é a verdade. E antes de alguém me ofender, cuide em trazer uma refutação com testemunho escritural forte.
SOLI DEO GLORIA!

2 comentários:

Cris Corrêa disse...

Olá...Obrigada pela visita no meu Blog ^^

Espero sempre te-lo por lá.


A Paz!

Odirlei disse...

Nem todos se curvam a Baal

Shalom!

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