quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Amor de engraxate

Aqui vai um dos meus poeminhas "Desrritimado", ainda não aprendi a respeitar métrica, ritmo e formas.

Cantar-te-ei agora minha musa/Como tantas vezes te tenho cantado /Daquele sentimento entre nós exaltado, /Que será doce Elizangela?/Não é o amor? Essa exótica/Planta que teima em nascer/Em pleno deserto árido?/Deixa-me então cantar, /Abre os teus ouvidos para o /Que dos meus lábios sairá:

Laborava, quem sabe, cinqüenta anos atrás, /De dezesseis anos, um mancebo,/Que do braço o sustento/Desde manhã, bem cedo,/Engraxando sapato enlameados /Teimava contra a pobreza lutar.
Um figurão, rosto de mármore /Com a donzela, filha sua/Ao hábil rapaz, mostrando, /O preto e fosco sapato: /-Faze-o ó mancebo, brilhar! /Mas os olhos do pobre, /Ainda que caros os sapatos fossem,/Eram na moça, tão bela! /Iam, sem cerimônia, se fixar;
E o pai, mármore duro,/Mais duro ficou, /os olhos, incrustados na pedra, /O pobre rapaz, intimidou,/Mas como rochedo duro /Não pode o mar deter, /Também não o mármore da face/
Fazer aquele que nasce, /0 amor, Esmorecer! /No interior da bela paisagem, /De pureza intocada, /Pura e imaculada!/Que da jovem era o coração; /Uniu no pobre engraxate/O seu amor desde então.

Jão, como dizia a mãe/Daquele menino-moço,/Que do suor do rosto colhia /Corajosamente o seu pão, /Era, outro de muitos, João;/E a cabeça vidrada /Naquele rosto tão belo /Jovem, relva florida de um dia de verão/Onde voam as borboletas, /Também lá voava Jão. /Nas estrelas via seus olhos;/E as copas das árvores, os cabelos, /Agitados pelo vento, tendo/O ventre nas ondulações do gramado./Comer, já não comia Jão;/E dormir, nem dormir dormia,/E, muito, se perguntando dizia: /Pra que dormir, se sonhar eu sonho de dia?/E alguém sempre dizia:/“Há de morrer esse menino!”/tão magro Jão estava/de tanto “viver” a amada.
Mas o mal que a favela atinge, /Não poupa a mansão;/E a jovem por seu turno/Também sofria o mal dessa paixão!/E como o amor só se cura/Quando cresce regado pelo amor, /Nem médico no estrangeiro formado /Pôde a jovem do mal estar/Com remédio importado exorcisar!/Esse platônico amor, que/A esperança não deixava morrer /Crescia mesmo dos olhos longe /Pois era a ânsia da vida por viver!
Vitória, que a moça era,/Não suportando a distância/A amiga-empregada chamou:/“Diva, me ouve, /ouve o meu amor/pois o cupido as flechas, /no meu peito encravou, /agora viver não vivo
se o objeto do amor meu,/perto não estiver comigo!/Vai à praça, como te digo,/E aquele engraxate que encontrares /Transmite o meu gemido!”
Mas Diva, confusa lhe disse ser/Impossível um só moço achar,/Posto que na praça muitos/Levam a vida a engraxar.
“Não hás de errar”, respondeu, /”Pois se nos olhos olhar, /um brilho sofredor nos meus podes ver, /tu irás enxergar!”

A laboriosa amiga-empregada/De procurar já cansada estava,/Quando nos olhos de um jovem, /O refulgir do brilho do amor/E a face sofrida do que ama/Sem sombra de dúvida constatou.
“Vem, eu te mostro onde é/o jardim dos teus sonhos, /aonde voam os teus pássaros,/onde pastam os teus rebanhos!”
E foram Vitória encontrar/Como princesa encarcerada/O seu príncipe a esperar; /E os olhos se encontraram/E o brilho de Jão/E o brilho de Vitória,/E houve um só brilho então;/A explosão de mil milhares de estrelas, /Incendiou suas almas,/E o átimo de um momento eterno/O ribombar do silêncio turbou/num milhão de longas frases não ditas,/a plenitude do amor!

Mas a dor, companheira dos que amam,/Suas garras em seus sonhos cravou!/E o pai, de grande empresa diretor,/Arranca a filha do sonho principiado, /“Oh filha”, disse o tal doutor,/“tu és pedra lapidada,/pelas minhas mãos trabalhada,/não te criei para o mundo,/e direi eu com dor profunda, /nem para esse mendigo vagabundo!
Agora some da minha casa, /e da minha filha não te aproximes,/senão te ponho a ferros, /pois sou homem de posses, /tenho a polícia a meu favor!”
A filha ao pai protestou: /“Eu o amo meu pai; /e mesmo tu sendo forte /não pode deter o amor!”
Mas o homem a filha ignorando, /expulsou o jovem João,/que resoluto saiu do jardim, /sem implorar compaixão. /E vitória ao longe lhe gritou:/“Luta, se queres o meu amor,/é teu, usa tua força, /e hás de ser vencedor!”
E João a rua estando,/Ao céu azul os olhos voltou, /E um pacto a si votou:/“Vou lutar e ser vencedor!”

E aquele rico homem, anos depois,/A filha Vitória casou,/O genro, jovem advogado,/Ímpeto sagaz e empreendedor, /Um dia lutando pelo povo,/Na função de senador,/a tribuna subiu para dizer:/“ Já fui pobre, muito lutei,/engraxei sapatos na praça,/e lá ficaria, não fosse o amor/me mostrar que o homem, /mesmo sendo pobre, pode ser vencedor,/Lutei muito, estudei demais,/
Mas nunca medi esforço,/Comigo estava o amor!”
O povo aplaude, /Vitória e o belo sorriso, /Nos braços dois filhos/Um no ventre; /O pai orgulhoso, /Bigode aparado, /Sapato lustrado, /Sorria, sorria, sorrria.
E esta, musa minha, /É uma história /do grande Sentimento titânico, /força do império do coração,/Assas belo, demasiado simples,/E tão inexplicável que/Mesmo caindo permanece em pé, /O amor!

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